DE PAI PRA FILHO
Por: Gabriel Miranda de Souza
Leia: Provérbios 1:8-19
Devemos começar compreendendo que Provérbios é mais um livro apaixonado, pois é mais uma vez Deus nos mostrando sua vontade e sua sabedoria, nos ensinando como viver sabiamente e como agirmos diante de situações. O capítulo 1:2-4 e v. 7 o autor vai dizer qual a importância deste livro para a sua vida devocional.
Dividiremos o trecho em 5 partes onde na primeira parte encontraremos a introdução e um motivo geral para se ouvir o que será dito (v. 8-9). Na segunda parte teremos uma exortação (v. 10). Na terceira parte ele vai apresentar a realidade fática e o pecado (v. 11-14). Na quarta parte ele falara sobre a advertência acerca do assunto (v. 15-18) e conclui com mostrando o porquê deve seguir a advertência e exortação anteriores (v. 19).
8. Filho meu, ouve o ensino de teu pai e não deixes a instrução de tua mãe. Salomão, que é o autor deste e de tantos outros capítulos de provérbios, começa de fato a ensinar a partir daqui. Como é perceptível se trata da perpetuação da sabedoria a começar no âmbito familiar, pois aqui vemos um pai instruindo um filho a como se portar no mundo de maneira sabia e honrosa. Há um ponto interessante aqui, ele diz “[...] o ensino de teu pai e [...] a instrução de tua mãe”, parece-me que ele está reafirmando toda a escritura que nos mostra sempre que o homem é o cabeça da relação, sendo assim o dever de ensinar os filhos é do pai e a mãe como instrutora – não intenda que um mais importante que o outro, mas perceba que existe a divisão de deveres. Outro ponto a se falar é acerca do primeiro mandamento com promessa “Honra teu pai e tua mãe, para que se prolonguem os teus dias na terra que o SENHOR, teu Deus, te dá” (Ex.20:12). Ele nos mostra que de fato honrar nossos pais através de nossas atitudes, colocando em pratica o caráter que nos é transmitido, nos fará viver muito e bem.
9. Porque serão diadema de graça para a tua cabeça e colares, para o teu pescoço. Ele reafirma e explica os motivos do versículo anterior, ensinando que aquele que honra pai e mãe obtém riquezas, mas não riquezas terrenas, pois essas não são as mais importantes, com a obediência angariamos riquezas nas regiões celestes, pois essas não passam, a traça não corre e nem o ladrão rouba (Mt.6:20).
10. Filho meu, se os pecadores querem seduzir-te, não o consintas. Salomão começa a mostrar o ensino a partir daqui. Ele apresenta a realidade quando diz acerca da sedução dos pecadores, de fato isso é presente. Os pecadores tentam nos levar pelas mãos a caminhos totalmente contrários à vontade do Senhor e fazem isso com muito empenho, nos apresentando os prazeres que o pecado traz. Mas devemos ser diretos, frios e objetivos e dizer NÃO a tudo isso, pois sabemos que os prazeres momentâneos do pecado não valem a pena quando contrastados com a beleza da eternidade em Cristo Jesus. O autor é muito objetivo, nos mostrando que a instrução não se faz de forma prolixa, dando voltas e voltas para se chegar no assunto de fato, devemos ir direto ao assunto apresentando a realidade do que passamos no mundo e os dois caminhos que temos a seguir – caminho do “negue-se a si mesmo”, ou o caminho do “mortos em nossos delitos e pecados”. Sejamos sensatos e digamos não ao pecado toda vez que ele nos for apresentado.
11. Se disserem: Vem conosco, embosquemo-nos para derramar sangue, espreitemos, ainda que sem motivo, os inocentes. O pecado é uma ofensa direta e clara aos mandamentos de Deus. Nesse caso ele utiliza a figura presente no sexto mandamento “não mataras” (Ex.20:13). Mas não enxerguemos o termo “mandamentos do Senhor” como os descritos em Êxodo 20, mas devemos enxergar como toda a escritura; devemos ver como tudo aquilo que Deus nos diz que devemos e é bom fazermos e o que não. Toda a bíblia contem mandamentos do Senhor e transgredir um mandamento nos leva ao desregramento de nossa vida devocional e comunhão com Deus.
12. traguemo-los vivos, como o abismo, e inteiros, como os que descem à cova. O termo “cova” foi traduzido do hebraico sheol que é termo poético para se falar da separação entre a vida e a morte, não um lugar especifico, ou seja, pecar não é somente fazer ou deixar de fazer algo, mas é uma atitude que não se finaliza no ato em si; ela começa no coração e se finaliza, as vezes, com as consequência que aquela má atitude trouxe.
13. acharemos toda sorte de bens preciosos; encheremos de despojos a nossa casa. Mais uma vez ele utiliza um dos mandamentos para falar da natureza transgressora e rebelde do homem, para com Deus.
14. lança a tua sorte entre nós; teremos todos uma só bolsa. A impressão que nos é lançada é de que todo aquele que compactua com o pecado, ainda que por omissão, também peca e se encontra no mesmo balaio, como dizemos aqui no nordeste”.
15. Filho meu, não te ponhas a caminho com eles; guarda das suas veredas os pés. Mais uma vez ele enfatiza a veemência e carinho do conselho com “filho meu”. Não se junte com pecadores para fazer o que eles fazem. É interessantes ver que a bíblia é um livro conexo, parece até que a pessoa que escreveu Gênesis foi a mesma que escreveu até Apocalipse, pois perceba como isso se conecta perfeitamente com o Salmo 1. Vemos que de fato a sabedoria pode ser passada através do ensino de nossos pais, pois como todos já devem saber David é pai de Salomão. (Não esquecendo que a sabedoria de Salomão foi concedida de forma especial por Deus, uma sabedoria para governar bem, mas devemos reconhecer que o ensino familiar se faz presente).
16. porque os seus pés correm para o mal e se apressam a derramar sangue. Essa afirmação prova, mais uma vez, a depravação total do homem. A corrupção das nossas vontades e do nosso coração foram afetadas de forma muito drástica, mas a misericórdia do Senhor permite que sua graça comum atinja a todos, podendo assim um ímpio praticar boas ações, mas no versículo anterior mostra que temos responsabilidade pela escolha que fazemos entre ouvir a voz de Deus e obedece-la e ignora-lo e pecarmos contra Ele.
17. Pois debalde se estende a rede à vista de qualquer ave. Não sei se já viram uma ave quando cai em um rede, mas posso lhes afirmar que é nítido o desespero do animal, bem como vemos que é impossível ele se livrar sozinho da rede e sua luta solitária o leva a um cansaço que o faz desistir de tentar sair e se rende. De igual forma somos nós: o pecado é posto a nossa frente como redes, muitas vezes, atrativas ao nossos olhos carnais e quando menos esperamos estamos presos nessa rede e tentamos lutar sozinhos, mas é impossível sair, todavia quando clamamos pelo Senhor Ele nos socorre com sua mão poderosa e nos tira dessas amarras que nos oprimia. Foi isso que Cristo fez por nós na cruz, Ele nos livrou do pesado julgo do pecado e da lei para sermos livre nEle.
18. Estes se emboscam contra o seu próprio sangue e a sua própria vida espreitam. Pessoas que seguem seus próprios caminhos tramam a morte delas mesmas. Pessoas que praticam o mal, acabam por ferir a elas mesmas. Quem peca contra Deus, traz a ira de Deus para si, então o único prejudicado profundamente será aquele que age assim.
19. Tal é a sorte de todo ganancioso; e este espírito de ganância tira a vida de quem o possui. O autor finaliza esse ensino reiterando que as pessoas que agem de forma desprovida de qualquer senso moral para com os mandamentos de Deus e aquele que contraria os ensinos dos pais vivem como aquele que é destruído por suas próprias atitudes.
Concluo mostrando como Cristo é, aqui, evidenciado. Ele foi um filho totalmente obediente e submisso ao seu Pai. Cumprindo tudo o que lhe foi ordenado fazer e agindo não conforme sua própria inteligência, mas sendo instruído e agindo sempre como lhe era permitido pelo Pai. Com isso Ele viveu, realizou milagres, foi humilhado, crucificado, morto e ressurgiu, tudo isso em atos de amor pelos seus, livrando-nos dos grilhões do pecado e se vivermos uma vida baseada em obediência à Deus seremos filhos que realizarão tudo aquilo e mais do que o próprio Cristo fez, como ele mesmo fala em João 14:12. De sorte que sendo obedientes viveremos mais e melhor do que aquele que prefere ser rebelde e transgressor.